Há muito tempo que minha mãe só acompanha as novelas das 6 da Rede Globo e, no máximo, Malhação. Mas não está curtindo a temporada atual… Ela não acha a menor graça no humor das tramas das 7 e não tem paciência para o excesso de violência e sexo que se apoderou do horário nobre da emissora. As produções exibidas às 23h, então, nem toma conhecimento. Obviamente eu nunca compartilhei dessa atitude radical, mas num detalhe dona Jandyra está coberta de razão: novela das 6 é realmente tudo de bom. Fiz uma relação de tramas inesquecíveis do horário (veja após fim do texto), mas é fato que, nos últimos tempos temos assistido, às 18h, as melhores produções de cada ano. Como vem acontecendo comLado a Lado, a novela mais bacana que está no ar agora.
Este triunfo das novelas das 6 começou a se solidificar em 2009. Mesmo com o sucesso de Caminho das Índias (2009), que era bacanérrima mesmo, Cama de Gato, dramaturgicamente, foi um acontecimento. O enredo dinâmico e cheio de reviravoltas laçou o público como há muito tempo não acontecia no horário. E, no mesmo ano, tivemos o prazer de assistir ao remake de Paraíso, não deixou nada a dever para a produção original de 1982. No ano seguinte, foi a vez de Escrito Nas Estrelas arrastar o público num turbilhão de fortíssimas emoções. Além de ressuscitar a carreira de Humberto Martins, a novela de Elizabeth Jhin revelou Jayme Matarazzo e confirmou o imenso talento de Nathália Dill, que já havia arrasado em Paraíso. Mas foi em 2011 que o público foi presenteado com duas obras-primas, que se consagraram não só como as melhores do ano, mas também como as mais bem realizadas da década. Muito se fala na criatividade de Avenida Brasil (2012), mas essa palavra foi muito melhor utilizada em Cordel Encantado. Duca Rachid e Thelma Guedes mostraram que é possível sim inovar sem ferir ou assustar o espectador de um horário tão específico. Mesmo a careta da minha mãe caiu de amores pela saga de Jesuíno (Cauã Reymond) e Açucena (Bianca Bin). E olha que, assim como eu, ela tem pavor de Cauã e Bianca, o casal de atores mais superestimados do país.
Logo depois chegou A Vida da Gente e Lícia Manzo levou junto com ela meu coração. Fui tomado de afeto pela historia das irmãs Ana (Fernanda Vasconcellos) e Manuela (Marjorie Estiano), graças a um texto sublime e às atuações de um elenco em estado de graça. Poucas vezes fique tão viciado numa novela como aconteceu com A Vida da Gente. Em 2012, Amor Eterno Amor pode não ter sido um triunfo como suas antecessoras, mas cumpriu sua trajetória com extrema eficiência.
Por fim, Lado a Lado estreou na telinha da Globo de forma despretensiosa. Na primeira crítica que fiz aqui à trama de João Ximenes Braga e Cláudia Lage, comparei a novela a um desfile da escola de samba Imperatriz Leopoldinense, cujo samba-enredo, Liberdade, Liberdade – Abre as Asas Sobre Nós é tema de abertura: muito bonito de se ver, mas pouco empolgante. E a novela começou realmente assim. Uma produção luxuosa, atores maravilhosos, mas uma trama enrolada e didática demais. Mas o que ficamos sabendo depois era que esse ritmo lento era apenas a introdução do “desfile”. No meio da “avenida”, Lado a Lado cresceu em harmonia, evolução e conjunto. E chega à sua reta final tirando 10, nota 10, em todos os quesitos. No enredo, João e Cláudia vêm mostrando uma maturidade surpreendente e dando um show de ousadia. Os diálogos são lindos e os personagens, muito bem construídos. Constância é uma das mais complexas criaturas que já surgiram em nossa telinha. É capaz de atos inomináveis, como roubar o filho de Isabel (Camila Pitanga), renegar a própria filha, Laura (Marjorie Estiano) e trair o marido, Assunção (Werner Schunemann), desavergonhadamente. Mas também, dentro de seu coração torto, ama Laura e chega a oferecer seu ombro solidário à filha quando menos esperava que ela tomasse tal atitude. A megera procurou ainda dar toda assistência ao neto, Elis (Cauê Campos), e demonstra gostar dele verdadeiramente. Patrícia Pillar desfruta desses conflitos saborosamente, guiando a ex-baronesa por caminhos perigosos que só uma grande atriz saberia trilhar.
Marjorie é outra que não desperdiça nem uma mínima cena, mesmo quando Laura sequer é o foco principal. Acredito que, muito em função de seu extraordinário talento, Thiago Fragoso finalmente se encontrou com Edgar e está perfeito como o jovem moderno e apaixonado, incapaz de lidar com o desejo de liberdade de sua ex-esposa. Camila Pitanga tem um material tão bom em mãos, que fica nítida sua empolgação e entrega à personagem. Lázaro Ramos é sempre ótimo, mas, entre os protagonistas, é o que menos tem tido o que fazer na história. No momento, Zé Maria está 100% gravitando em torno de Isabel… Aplausos ainda para Alessandra Negrini, Maria Padilha, Christiana Guinle, Débora Duarte, Rafael Cardoso, Caio Blat, Cássio Gabus Mendes, Zezeh Barbosa, Bia Seidl e o magnífico Milton Gonçalves. Lado a Ladosedimenta a força do horário com maestria e espero que siga assim, sem atravessar o samba, até o final. Potencial pra isso tem para dar e vender.
Outras tramas das 6 inesquecíveis
Sinhá Moça (1986 e 2006)
Alma Gêmea (2005)
Cabocla (2004 e 1979)
Chocolate Com Pimenta (2003)
O Cravo e a Rosa (2000)
Força de um Desejo (2009)
Era Uma Vez… (1998)
Pecado Capital (1998)
História de Amor (1995)
Mulheres de Areia (1993)
Felicidade (1991)
Barriga de Aluguel (1990)
Direito de Amar (1987)
A Gata Comeu (1985)
Livre para Voar (1984)
Voltei Pra Você (1983)
Final Feliz (1982)
Ciranda de Pedra (1981)
Feijão Maravilha (1979)
A Sucessora (1978)
Maria Maria (1978)
A Sombra dos Laranjais (1977)
Escrava Isaura (1976)
O Feijão e o Sonho (1976)
A Moreninha (1975)
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